Covid-19: Revelados os primeiros resultados do rastreio serológico aos trabalhadores da U.Porto
Estudo envolveu 3461 trabalhadores da U.Porto, tendo sido detetada a presença de anticorpos da classe IgG para o vírus SARS-CoV-2 em menos de 1% (32).
A primeira fase do rastreio decorreu ao longo de dois meses e envolveu perto de 3500 trabalhadores da Universidade. FOTO: EGIDIO SANTOS/U.PORTO
Os primeiros resultados do rastreio serológico conduzido pelo Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto (ISPUP) junto de 3461 trabalhadores da Universidade do Porto (U.Porto), mostram que 32 (0,9%) terão estado em contacto com o vírus e apresentam anticorpos da classe IgG (anticorpos de maior duração, que o organismo começa a produzir após a resposta imunitária inicial, feita com anticorpos da classe IgM), os mais importantes para avaliar uma possível – ainda que não comprovada – imunidade ao novo coronavírus.
Iniciado em junho, este ambicioso programa de rastreio tem como objetivo a deteção da presença de anticorpos específicos (IgG e IgM) para o vírus SARS-CoV-2 entre os colaboradores da U.Porto. Estes anticorpos servem então para medir a extensão da infeção numa determinada população, sendo úteis para aferir o nível de imunidade populacional.
Para além dos 32 trabalhadores com anticorpos IgG, foi ainda detetada a presença de anticorpos da classe IgM em mais 116 trabalhadores (3,4%). Contudo, e à luz do estado atual do conhecimento, o valor de 0.9% – percentagem de trabalhadores com anticorpos IgG – embora mais conservador, será o que melhor refletirá a presença de uma resposta imune ao contacto com o vírus prolongada no tempo.
Globalmente, os resultados agora revelados – e que reportam ao período de 21 de maio a 20 de julho – demonstram um contacto com o vírus entre os trabalhadores da U.Porto menor do que o que já foi encontrado em outras amostras, sejam da população universitária ou geral, e em Portugal e no estrangeiro. Algo que, para os investigadores equipa do ISPUP, pode ser explicado pelo facto de uma proporção muito elevada dos trabalhadores da Universidade ter estado, e permanecer, em regime de teletrabalho.
O teste realizado consistiu na recolha e análise de uma gota de sangue que, em cerca de dez minutos, “diz” se a pessoa já produziu anticorpos das classes IgM e IgG.
O “retrato” da infeção
Os resultados já conhecidos revelam igualmente algumas diferenças nas características dos trabalhadores que tiveram um resultado reativo para os dois anticorpos pesquisados, quando comparados com os restantes.
Assim, a prevalência de anticorpos IgG cresceu com a idade, sendo maior entre os participantes entre os 60-69 anos (1.5%) e com idade igual ou superior a 70 (2.9%) do que nos restantes grupos etários. Foi também maior em homens (1.4%) do que nas mulheres (0.7%), e entre os trabalhadores com o ensino básico (1.8%) ou o doutoramento (1.3%). Registou-se também uma maior prevalência nos participantes que não tinham nacionalidade portuguesa (1.7% versus 0,9%).
Já os trabalhadores com história de contactos com caso confirmado tiveram uma prevalência maior de IgG do que os sem contactos conhecidos com casos confirmados (7.4% vs. 0.6%). O mesmo se verificou entre os que tinham estado em vigilância pelas autoridades de saúde por serem contacto próximo com algum caso confirmado (15.6% vs. 0.5%).
Focando a análise nos 32 trabalhadores da U.Porto (0,9%) que apresentaram anticorpos IgG específicos para o vírus SARS-CoV-2, verificou-se que 13 nunca tinham feito o teste RT-PCR de pesquisa do vírus. Quatro tinham feito o teste, mas fora negativo, e 15 já tinham tido diagnóstico de infeção por SARS-CoV-2.
Relativamente à presença de sintomas, cinco dos trabalhadores que testaram IgG positivo mencionaram nunca ter tido sintomas sugestivos de COVID-19, desde janeiro de 2020. Já nove tinham tido sintomas ligeiros (um ou dois dos seguintes sintomas: tosse, dispneia, odinofagia, cefaleias, vómitos ou náuseas, diarreia, cefaleias, astenia ou febre) e 18 tinham estado sintomáticos (pelo menos três dos sintomas descritos anteriormente, ou a diminuição de olfato ou paladar).
Já no que toca aos 116 participantes que apresentaram IgM como único marcador de contacto com o SARS-CoV-2, nenhum foi positivo na pesquisa que se efetuou, a posteriori, por zaragatoa oro e nasofaríngea.
Durante o período do rastreio, foi ainda recomendada a realização do teste de deteção – por zaragatoa (colheita de exsudado da oro e nasofaringe) – a seis trabalhadores que, apesar de não terem tido um teste reativo para a pesquisa de anticorpos, apresentavam sintomas sugestivos de COVID-19.
Próximos passos
Concluída a primeira fase do rastreio serológico, seguir-se-á uma avaliação seriada dos participantes que testaram positivo, por forma a perceber quanto tempo durarão os anticorpos no organismo.
Recorde-se que esta primeira fase do rastreio serológico teve lugar entre 1 de junho e 10 de julho e abrangeu todos os trabalhadores docentes e não docentes da Universidade.
Como explicou o Reitor da U.Porto no arranque do projeto, “a nossa intenção é tirar uma fotografia desta população agora, mas ir repetindo essa fotografia ao longo do ano, para perceber como é que a comunidade evoluiu e se foi adquirindo imunidade ao vírus”.
Em vista está também o alargamento do estudo aos estudantes da U.Porto. Um trabalho que, segundo António de Sousa Pereira, deverá estar concluído “até final do ano”.