Número de estudantes estrangeiros no ensino privado duplicou

Tal como aconteceu nas instituições públicas, universidades particulares aproveitaram Estatuto do Estudante Internacional para atrair mais alunos. Este ano são quase 8000.

Não é só entre os estudantes portugueses que o ensino superior privado tem estado a crescer nos últimos anos. No espaço de seis anos lectivos, o total de alunos estrangeiros inscritos nas instituições do sector particular e cooperativo mais do que duplicou. Este ano, os indicadores apontam no sentido de um novo crescimento. Serão cerca de 8000 estudantes de fora do país que estão actualmente matriculados.

Os dados recolhidos pelo PÚBLICO junto das instituições privadas de ensino superior apontam para um crescimento de 7,7% do número de estudantes estrangeiros inscritos neste ano lectivo. Este indicador acentua a tendência que se tem verificado no subsector desde a aprovação do Estatuto do Estudante Internacional, em 2014. O diploma criou novas condições para a frequência das universidades e politécnicos nacionais por alunos oriundos de outros países e clarificou a sua forma de candidatura e ingresso.

Desde então, o número de estudantes estrangeiros inscritos em instituições de ensino superior privado mais do que duplicou. No ano lectivo 2013/2014 eram 3443 os alunos internacionais matriculados em universidades particulares, ao passo que, no ano lectivo passado, foram já 7242 os estrangeiros inscritos, de acordo com os dados oficiais, publicados pela Direcção-Geral das Estatísticas de Educação e Ciência.

As informações recolhidas pelo PÚBLICO junto das instituições de ensino permitem antecipar um novo aumento do número de estrangeiros inscritos no ensino superior privado, chegando aos 7800 neste ano lectivo. Os dados oficiais serão conhecidos apenas no mês de Abril.

A tendência de aumento do número de estudantes estrangeiros também tem vindo a ser sentida no ensino superior público, desde a aprovação do Estatuto do Estudante Internacional. Os dados mais recentes, divulgados pelo Governo em Agosto, mostraram que o número de candidatos estrangeiros ao ensino superior público neste ano lectivo cresceu 36%, em relação a igual período do ano anterior. Estes não são números finais, uma vez que as colocações destes estudantes terminaram apenas no mês de Outubro. Os dados definitivos devem ser publicados nas próximas semanas.

Ao contrário do que aconteceu no subsector público, onde universidades e politécnicos criaram marcas próprias para a divulgação de Portugal como destino para estudar no ensino superior, as instituições privadas não lançaram uma iniciativa transversal de atracção de alunos, mas associaram-se às iniciativas nacionais de promoção no exterior. “A captação de estudantes internacionais é hoje um desígnio do sistema, do país”, reconhece o presidente da Associação Portuguesa do Ensino Superior Privado (Apesp), João Redondo.

A visibilidade internacional que “o ensino superior português, no seu conjunto, tem tido nos últimos anos, designadamente com a participação em certames internacionais, tem contribuído muito significativamente para o crescimento do número de estudantes internacionais”, valoriza o mesmo responsável, lembrando que as instituições privadas, de forma individual, e a própria Apesp, têm estado representadas em muitos desses certames.

Em todo o caso, é “evidente que as instituições, por si, têm de se orientar estrategicamente para a internacionalização e para a captação de estudantes internacionais, se de facto quiserem ter resultados nesse domínio”, acrescenta Redondo.

Foi isso que fez o Instituto Piaget — que este ano cresceu 20% o número total de inscritos — conseguindo aumentar o número de estudantes estrangeiros, sobretudo os que são oriundos da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa. “O Piaget está presente nesses mercados e a marca acaba por ser conhecida. Esse facto transmite algum conforto a famílias que querem enviar os seus filhos para estudar fora”, acredita o secretário-geral daquela instituição de ensino superior, Rui Tomás.

Há, no entanto, outras instituições privadas que admitem que têm ainda um esforço a fazer. É o caso da Universidade Portucalense onde “a maior parte dos alunos são portugueses e do Norte”, explica Cláudia Carvalho, administradora da instituição sediada no Porto. O “reforço da internacionalização” faz parte da estratégia do novo reitor da universidade para os próximos quatro anos. 

Samuel Silva - 9 de Fevereiro de 2020, Público