Mais de 650 cientistas pedem "verdadeira carreira" em carta aberta a ministro

A carta aberta alega que "só um número residual de investigadores (...) é que passou aos quadros das universidades e centros" científicos.

Mais de 650 cientistas, incluindo desempregados, bolseiros e contratados a termo, pedem, numa nova carta aberta dirigida ao ministro da Ciência, "uma verdadeira carreira de investigação científica, equilibrada entre as diversas categorias de investigadores".

A carta aberta, divulgada esta sexta-feira e com conhecimento ao Presidente da República e ao primeiro-ministro, refere que "nesta legislatura as oportunidades para os investigadores-auxiliares, principais e coordenadores foram manifestamente limitadas, tendo sido dada uma ênfase clara aos investigadores juniores, recém-doutorados".

A iniciativa, subscrita por 678 investigadores, incluindo a historiadora Irene Flunser Pimentel, Prémio Pessoa 2007 e com contrato a termo incerto, surge em resposta a declarações do ministro da Ciência, Manuel Heitor, que, ao jornal Público, disse há três semanas que "há pleno emprego" científico em Portugal.

Os subscritores da carta aberta consideram grave "a situação dos investigadores, sem carreira ou estabilidade, e muitos sem emprego depois de 20 anos de trabalho", criticando a "estratégia atabalhoada de perpetuação da precariedade".

Na missiva, os cientistas reclamam "uma verdadeira carreira de investigação científica, equilibrada entre as diversas categorias de investigadores, que premeie o mérito científico, mas também que possibilite a necessária estabilidade dos investigadores seniores", bem como "uma política de continuidade, sem ciclos perversos de contratos precários a prazo".

Esta é a segunda carta aberta dirigida este mês a Manuel Heitor, depois das suas declarações ao jornal Público.

No início de fevereiro, por iniciativa da Associação de Bolseiros de Investigação Científica, centenas de investigadores subscreveram uma carta contra a precariedade laboral na ciência, acusando o ministro de "ficar do lado das instituições, a quem a precariedade serve, em vez de resolver definitivamente o problema dos trabalhadores científicos".

Nesta carta, os subscritores realçam que "há doutorados sem qualquer emprego, doutorados com bolsas para doutorados ou para mestres sem perspetiva de passarem a contrato e doutorados com bolsas à espera de um contrato que tarda em sair", apontando como "único caminho para a resolução destes problemas a integração de todos os investigadores, independentemente do grau, na respetiva carreira".

Em janeiro, antes das declarações do ministro Manuel Heitor ao Público, mais de 500 investigadores, incluindo desempregados, pediram ao presidente da Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT), Paulo Ferrão, mais vagas nos concursos FCT para a contratação de cientistas seniores, com a FCT a prometer analisar a proposta.

Lusa