Estudantes portugueses em Itália interrompem Erasmus por causa do coronavírus

Na Universidade Nova de Lisboa, há já 11 alunos a regressar mais cedo de programas de mobilidade em Itália

Universidades e politécnicos dão possibilidade de regresso a Portugal, sem penalização académica ou ao nível das bolsas. Alguns alunos já o fizeram, outros vêm a caminho

Há estudantes portugueses a regressar mais cedo do que estava previsto de Itália, onde se encontravam ao abrigo do programa Erasmus, por causa do surto de coronavírus que atinge o norte do país. Numa altura em que o número de mortos em Itália subiu para 17, alguns destes alunos optam pelo regresso não tanto para fugir de um vírus que provavelmente os apanhará em Portugal, mas à procura de o encarar no conforto de casa.

Covid-19. Dois portugueses infetados “estão bem”, garante diretora-geral de Saúde

Graça Freitas diz que os planos de contingência são adequados ao risco atual e, numa visita à comunidade chinesa em Lisboa, apelou à calma e elogiou os cidadãos do país em isolamento voluntário em Portugal

É, pelo menos o que diz Raquel Pedro, estudante da Escola Superior de Tecnologia de Saúde, do Politécnico de Coimbra. Atualmente a estagiar num hospital em Pescara, cidade costeira não muito longe de Roma, já decidiu vir embora. “A faculdade informou-nos que podíamos escolher regressar a Portugal ou não, sendo que não nos retiravam a bolsa”, conta. Em Coimbra, como noutras universidades do país, foram enviadas aos estudantes as recomendações da Direção-Geral da Saúde e dada a possibilidade do regresso, sem penalização, a quem estava em áreas “com transmissão comunitária ativa do novo coronavírus, como o Norte de Itália, China, Coreia do Sul, Singapura, Japão ou Irão”. A hipótese foi aberta depois de às agências nacionais que gerem a mobilidade ter sido dada a hipótese de aplicar o princípio de “força maior” aos alunos que abandonem os programas por causa do coronavírus.

“Estivemos indecisas, mas em Itália, neste momento, tudo é uma incerteza”, explica Raquel, para quem estar “num país diferente, sem dominar a língua, é desconfortável” em caso de diagnóstico positivo. Raquel fala no plural porque está com mais uma colega em Pescara, que também vai voltar. Receberam um telefonema na última segunda-feira e menos de uma semana depois estarão de regresso a casa.

Mais a norte, em Génova, já em plena zona de risco, duas colegas do mesmo curso não esperaram tanto e já estão em Portugal. Só o par que completa o grupo de seis alunos do curso a estagiar em Itália, e que está em Roma, ainda não decidiu.

Raquel Pedro admite que no hospital em Pescara “está tudo calmo” e “não há alarmismos”, mas lembra que foi aconselhada pela monitora do curso a regressar ao país de origem. “Recebemos também imenso apoio dos professores em Portugal e isso tornou mais fácil decidir”, confessa. “A nível de estágio não vamos ser prejudicados”, acrescenta a aluna. Já quanto à bolsa, 90% do apoio foi já pago pela faculdade, enquanto os 10% restantes devem ser pagos no fim do programa. Raquel teve a garantia de que esse valor não está em causa.

EasyJet: ligações de Portugal com Itália não serão afetadas, por enquanto

A easyJet emitiu esta sexta-feira um comunicado a alertar para a possibilidade de cancelamento de alguns voos de e para Itália

No site da Agência Nacional portuguesa lê-se que, no caso de um acordo de regresso “devido a motivos de força maior”, como o coronavírus, “o participante terá o direito de receber o montante de subvenção correspondente, pelo menos, à duração efetiva do período de mobilidade”. Já para o restante período, em que o estudante está em casa, “o financiamento remanescente terá de ser devolvido, exceto se for acordado de forma diferente com o beneficiário”. Ou seja, as universidades e politécnicos têm autonomia para decidir com os alunos o que fazer. O Expresso contactou a agência nacional para saber quantos alunos portugueses em Itália tinham já feito pedidos de regresso, mas não obteve resposta à questão.

Na Universidade de Coimbra (UC) os alunos em Itália estão identificados: são 41 e, diz a reitoria, estão a ser “monitorizados proativamente, atendendo à especificidade de cada situação”. A UC não confirma se algum deles pediu para regressar, mas adianta que “serão adotadas todas as medidas adequadas, designadamente no que respeita à componente letiva, para que nenhum membro da comunidade académica seja prejudicado em razão da presente situação de saúde pública”.

A norte, na Universidade do Porto (UPorto), há mais do triplo dos estudantes atualmente em Itália. Mas desse grupo de 125, nenhum optou, até agora, por voltar. No comunicado que receberam da reitoria da UPorto lê-se que “aos estudantes, funcionários e docentes que, ao abrigo destas recomendações [da DGS], decidam permanecer em casa, é garantido que não terão penalizações do ponto de vista académico e profissional”. A reitoria da universidade admite que a situação possa mudar a qualquer momento.

Na Universidade Nova de Lisboa já mudou. Uma nota com o mesmo teor foi encaminhada aos 46 alunos a estudar em Itália, dos quais 28 estão na zona norte do país, e 11 decidiram voltar a casa. Para estas situações, explica a Nova ao Expresso, “e seguindo as orientações da DGS, os alunos foram submetidos a inquéritos e consultas epidemiológicos, encontrando-se em quarentena voluntária”.

28.02.2020 JOÃO DIOGO CORREIA