Covid-19. Universidade do Porto já admite alargamento do ano letivo

Depois das escolas, há agora faculdades a fechar portas, sendo a Universidade do Porto a instituição mais afetada. Alunos mostram-se tranquilos e têm garantias de que ninguém sairá prejudicado, mas a reitoria alerta para a dificuldade de gerir o impacto do fecho das portas, devido à vertente prática de grande parte dos cursos.

Universidade do Porto é a mais atingida pelas medidas de prevenção do coronavírus em Portugal

Desde que a epidemia do novo coronavírus chegou a Portugal, já são várias as escolas que decidiram fechar portas, no Porto e em Lisboa, depois de confirmados casos de professores e alunos infetados. Neste caso, os diretores veem-se obrigados a "dar aulas suplementares a esses alunos, de forma a recuperarem o tempo perdido", explicou o presidente da Associação Nacional de Diretores de Agrupamentos e Escolas Públicas (ANDAEP), Filinto Lima, em entrevista ao DN. Contudo, o impacto da chegada desta epidemia a Portugal vai agora além do ensino básico e secundário, com o governo a ordenar o encerramento de duas faculdades no norte do país, onde foram registados infetados, e o fecho voluntário de outras instituições de ensino superior. A Universidade do Porto, a instituição mais afetada até agora, admite "a extensão do calendário académico".

As instalações académicas partilhadas entre a Faculdade de Farmácia da Universidade do Porto (FFUP) e o Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar (ICBAS) vão permanecer encerradas até ao dia 20 de março, depois de confirmado o caso de um aluno desta comunidade infetado por covid-19. De acordo com um comunicado enviado às redações, a reitoria diz que "as autoridades de saúde estão a notificar todas as pessoas que tiveram contacto direto e continuado com a estudante com covid-19, para que se remetam a um isolamento profilático nas suas residências". São eles "colegas de turmas, grupos de trabalho, docentes e assistentes das aulas frequentadas", lê-se

Para já, o governo não prevê o alargamento da medida a mais instituições e a decisão deverá partir sempre da Direção-Geral de Saúde (DGS), mas já há algumas a tomar a iniciativa de fechar as portas.

É o caso da Faculdade de Medicina (da UP), da CESPU (no norte) e da Escola Superior de Tecnologia e Gestão (ESTG) do Politécnico do Porto, que decidiram fechar por precaução. O próprio Conselho Nacional das Escolas Médicas recomendou, esta segunda-feira, o encerramento temporário de todas as faculdades de medicina do país, para evitar contacto de alunos e professores com doentes.

Na sequência do caso confirmado de um aluno infetado, a Universidade do Minho (UM) fechou o campus de Braga por tempo indeterminado. O mesmo aconteceu na semana passada na Escola Superior de Música e Artes do Espetáculo (ESMAE) do Porto, onde um professor regressado de Itália, que se veio a confirmar estar infetado, esteve a lecionar durante uns dias. Na Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD), em Vila Real, todos os eventos e deslocações ao estrangeiro estão suspensas. Além disso, a instituição pediu para a todos os alunos vindos de Lousada e de Felgueiras não irem às aulas, caso tenham estado nestes locais, onde a propagação do vírus já levou ao encerramento de escolas, ginásios, piscinas, cinemas e à suspensão de missas.

Conselho de Reitores das Universidades Portuguesas (CRUP) convocou reunião para esta terça-feira, para discutir medidas preventivas nas faculdades

Alargar ano letivo? "Pode ser uma hipótese", diz UP

Porque o fecho das instituições é recente, decretado oficialmente este sábado, as perguntas ainda são mais do que as respostas, quer para alunos quer para professores. Na Faculdade de Farmácia do Porto, o presidente da Associação de Estudantes garante que "os estudantes têm recebido todas as orientações com serenidade". Em entrevista ao DN, Miguel Neves disse que, "em termos letivos, há garantias de que o conselho diretivo [da FFUP] arranjará soluções para que os estudantes não saiam prejudicados de toda esta situação", quer passe por aulas extra ou pela adaptação de conteúdos a lecionar no regresso à atividade letiva. Uma tarefa facilitada pelo período em que decorre esta interrupção, em que "não estava prevista nenhuma avaliação", lembra.

Ainda assim, uma tarefa dificultada pela génese prática de determinados cursos, disse a reitoria da Universidade do Porto (UP). Numa resposta enviada ao DN, garante que estão a ser reunidos "esforços no sentido de minimizar o impacto do encerramento no percurso académico dos estudantes" e que "as opções estão a ser delineadas pelos docentes dos respetivos cursos", apesar de ser "um processo com algumas dificuldades por se tratarem de cursos com muitas aulas práticas". Em cima da mesa está "a extensão do calendário académico", que a universidade diz "poder ser uma hipótese".

O gabinete da reitoria disse também esta segunda-feira ao DN que a Mostra da Universidade do Porto foi cancelada. A edição 2020 do evento que se realiza todos os anos estava marcada para o período de 26 a 29 de março e preparava-se para reunir milhares de pessoas, entre os quais alunos, docentes e investigadores que divulgam as várias ofertas formativas da instituição. Face às recomendações das autoridades de saúde sobre a realização de eventos de massa e "pelo tipo de evento, o público-alvo, número de participantes esperados, foi cancelada", confirmou a universidade.

O panorama nacional atual motivou a urgência do Conselho de Reitores das Universidades Portuguesas (CRUP) em convocar uma reunião para esta terça-feira, em que serão discutidas medidas preventivas para as várias instituições de ensino superior.

Atualmente, há 31 infetados em Portugal e mais de 111 mil em todo o mundo

Escolas com orientações para casos suspeitos

Atualmente, há 31 infetados em Portugal - mais de 111 mil em todo o mundo -, entre os quais professores e alunos. Na semana passada, as escolas receberam orientações da Direção-Geral dos Estabelecimentos de Ensino (Dgeste) sobre os procedimentos que devem seguir no caso de existirem casos suspeitos de covid-19 nas suas instalações.

Além das medidas básicas de higiene preventivas, já recordadas pela Direção-Geral de Saúde (DGS) - como lavar frequentemente as mãos, espirrar e tossir para o braço, além de evitar tocar os olhos, nariz e boca com as mãos contaminadas - a Dgeste recomenda que as escolas escolham uma área de isolamento, onde deverá ficar qualquer aluno, professor ou funcionário que apresente sintomas (febre, tosse e dificuldades respiratórias).

Recomenda ainda que as escolas desenvolvam uma rede de comunicação de contactos, identificando os profissionais de saúde e as autoridades de saúde locais. "Cada escola deve definir responsabilidades, criando uma estrutura de comando e controlo, rede de comunicação de contactos atualizada, identificar os profissionais de saúde e respetivos contactos, designadamente, as Autoridades de Saúde Locais", lê-se no documento.

Até agora, há escolas que têm optado por cancelar ou suspender visitas de estudo, além das viagens de finalistas. O presidente da ANDAEP e representante dos diretores escolares Filinto Lima conta que os meios de higienização das mãos estão a ser reforçados nos estabelecimentos de ensino e que a informação sobre os cuidados a ter tem sido transmitida a todos os alunos.

A DGS anunciou uma série de recomendações para estancar a contaminação do novo vírus. Pede para evitar contacto próximo com pessoas que demonstrem sinais de infeção respiratória aguda, lavar frequentemente as mãos, evitar contacto com animais, tapar o nariz e a boca quando espirra ou tosse e lavar as mãos de seguida pelo menos durante 20 segundos. Em caso de apresentar sintomas coincidentes com os do vírus (febre, tosse, dificuldade respiratória), a DGS pede que não se desloque às urgências, mas para ligar para a Linha de SNS 24 (808 24 24 24).

Catarina Reis - 09 Março 2020 — Diário de Notícias