Universidades e politécnicos vão ter 7 milhões de euros para combater abandono escolar

Verba destina-se a financiar programas de acompanhamento dos estudantes do primeiro ano e melhoria da qualidade do ensino. Governo quer que as instituições saibam mais cedo quando os alunos desistem.

As universidades e politécnicos públicos vão ter à sua disposição 7 milhões de euros para criarem programas de combate ao abandono e de promoção do sucesso escolar. A iniciativa é apresentada pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior (MCTES) durante um seminário que acontece esta sexta-feira, em Braga, onde a tutela vai mostrar “bons exemplos” de iniciativas criadas pelas instituições de ensino nesta área. Entre as prioridades, está a criação de mecanismos que permitam conhecer mais cedo quando os alunos desistem dos estudos.

O Governo quer dar prioridade à integração dos estudantes que entraram este ano pela primeira vez no ensino superior. Os estudos internacionais têm demonstrado que “a fase de integração é particularmente crítica” para o sucesso académico de um estudante, explica o secretário de Estado do Ensino Superior, Pedro Teixeira. “Se o primeiro ano corre bem, o percurso do aluno não tem muitos sobressaltos, se o primeiro ano corre mal, a probabilidade de abandono e de insucesso escolar aumentar.”

No ano passado, a taxa de desistência entre os alunos de licenciatura, no final do primeiro ano do respectivo curso, fixou-se em 10,8%, 1,7 pontos percentuais acima do verificado um ano antes. De acordo com os dados oficiais, publicados no portal Infocursos em Julho o abandono escolar aumentou em praticamente todos os ciclos do ensino secundário.

As instituições conhecem “tardiamente” esses dados, reconhece o secretário de Estado do Ensino Superior. Uma das prioridades que o MCTES quer ver assumida pelas instituições de ensino passa pela criação de mecanismos de acompanhamento dos alunos que permitam ter mais cedo do que agora acontece “sinais de alerta” sobre casos de abandono, que permitam uma actuação “preventiva e mais proactiva”. “Há alguns indicadores, como a falta sucessiva a momentos de avaliação, que podem permitir identificar esses casos”, explica Pedro Teixeira.

Por exemplo, o Instituto Politécnico do Cávado e do Ave criou um Observatório Permanente do Abandono e Promoção do Sucesso Académico que está precisamente a criar um sistema de alerta que permite a monitorização de sinalização das situações de risco. “Para além da sinalização, está previsto o accionamento de medidas tendentes a evitar o abandono e a redução do insucesso”, sintetiza a instituição.

O Observatório do IPCA é um dos “bons exemplos” que o MCTES destaca num seminário sobre abandono e insucesso no ensino superior que acontece esta sexta-feira na Universidade do Minho, em Braga.

Outros projectos que vão ser destacados são as tutorias assistidas por inteligência artificial da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, que está a tentar criar modelos de inteligência artificial capazes de prestar informação preditiva que contribua para o aumento do sucesso académico e redução do abandono no superior; já na Universidade do Porto propõe desenvolver um modelo e implementar em ambiente real um protótipo de análise preditiva que analisará bases de dados com informação sociodemográfica e de desempenho académico dos estudantes em anos anteriores.

São projectos como estes que vão poder candidatar-se à linha de apoio de 7 milhões de euros – financiados a 85% por fundos comunitários do Programa Operacional Capital Humano –, que o MCTES vai pôr à disposição das instituições, “colocando o foco na qualidade do ensino e no acompanhamento dos alunos do primeiro ano”, segundo Pedro Teixeira.

Ao invés de criar um programa nacional, o Governo optou por permitir a cada universidade ou politécnico desenhar as suas próprias formas de intervenção. “As instituições de ensino superior são muito diferentes entre si”, justifica o secretário de Estado.

Esta sexta-feira, o MCTES apresenta também o Programa de Apoio a Iniciativas de Acolhimento e Integração dos Novos Estudantes, que vai apoiar actividades culturais que envolvam os estudantes, tanto iniciativas já existentes e que têm assim uma oportunidade de reforçar os seus orçamentos, como projectos novos que “estimulem a possibilidade de fazer algo em grupo”, como orquestras, grupos corais, grupos de teatro ou clubes de leitura, exemplifica a tutela.

As universidades e politécnicos vão poder candidatar estas iniciativas junto da DGES, recebendo um financiamento de até 20 mil euros. Os projectos vão ser avaliados por um júri “composto por individualidades independentes e com reconhecido contributo para a área do ensino superior e da cultura”, presidido pela maestrina Joana Carneiro.

Samuel Silva 27 de Outubro de 2022, Público