Alunos das universidades públicas são os que mais seguem para mestrado logo após licenciatura

Mais de metade dos recém-licenciados nestas instituições de ensino fazem um mestrado logo após a licenciatura. Desses, 90% voltam a escolher universidades do sector público.

O que acontece aos estudantes após concluída a licenciatura? Alguns começam a trabalhar, outros nem trabalham nem estudam, e uma parte prossegue os estudos matriculando-se em mestrados. Esta última hipótese foi a opção de mais de um terço dos recém-licenciados em 2016/2017.

O número dos que escolhem prosseguir estudos mantém-se estável desde pelo menos 2013/2014, mas não se distribui de igual forma pelos diferentes subsistemas de ensino. São os jovens que concluem licenciaturas nas universidades públicas que mais continuam a estudar (55%), seguem-se os que frequentaram universidades privadas (35%), os do politécnico público (24%) e os do politécnico privado (12%).

Entre os que continuam no ensino superior, “a maioria tende a permanecer no mesmo subsistema em que concluiu a licenciatura”. As taxas de permanência são mais elevadas no ensino público universitário (90%) e mais baixas no ensino privado politécnico (62%), detalha a Direcção-Geral das Estatísticas da Educação e da Ciência (DGEEC), num relatório sobre o “Prosseguimento de estudos entre os diplomados de licenciaturas” que olha para o universo de recém-licenciados em 2016/2017. As universidades públicas são a principal escolha mesmo para quem troca de subsistema.

À medida que o nível de detalhe da análise aumenta e se chega à desagregação das instituições de ensino superior, também acresce a heterogeneidade entre as instituições no que diz respeito aos caminhos escolhidos pelos alunos após a licenciatura.

Há duas universidades públicas com percentagens mais elevadas de alunos de prosseguem estudos após a licenciatura. “Constata-se que entre os licenciados em 2016/2017 da Universidade de Coimbra e da Universidade da Beira Interior, cerca de 63% prosseguiram estudos superiores em 2017/2018. Estes são os valores mais elevados entre todas as universidades públicas, embora incluam também estudantes que prosseguiram estudos noutras instituições.”

É a Universidade do Minho que tem mais recém-licenciados a continuar os estudos dentro da instituição em que já se tinham licenciado — são 47%.

Os números contrastam com os de outras instituições de ensino superior. Nomeadamente, a Universidade da Madeira, em que 34% dos alunos prosseguem estudos, mas só 14% se mantêm na instituição; e a Universidade do Algarve (UA), na qual 34% dos recém-licenciados seguem para mestrado, mas só 23% continua na instituição.

“As taxas mais baixas de prosseguimento de estudos no ensino universitário registam-se entre os recém-licenciados na Universidade Aberta”, constata a DGEEC.

 Vagas do ensino superior voltam a baixar este ano

No caso do ensino superior politécnico, as taxas de prosseguimento de estudos foram mais elevadas no Instituto Politécnico (IP) do Porto, no IP de Tomar e no IP de Bragança. E são mais baixas na Escola Superior Náutica Infante Dom Henrique (3%) e nas escolas superiores de enfermagem de Lisboa, Coimbra e Porto (abaixo de 6%).

Mais um nível de análise: o distrito onde se localiza a instituição de ensino superior. É em Vila Real (52%) e Évora (48%) que há mais recém-licenciados a prosseguir estudos. Viseu (14%) e Guarda (14%) estão no extremo oposto. No que diz respeito aos fluxos interdistritais, a DGEEC constata que “Setúbal e a Região Autónoma da Madeira são as únicas regiões do país em que mais de metade dos seus recém-licenciados que prosseguem estudos fazem-no fora da região”.

Educação e Matemática: maioria segue para mestrado

A heterogeneidade não se limita às instituições de ensino. Nas diferentes áreas de formação também há discrepâncias acentuadas. Os recém-licenciados em cursos relacionados com Educação são os que mais fazem o mestrado logo a seguir à licenciatura — são 76%. “Uma possível explicação para esta elevada percentagem residirá na exigência legal, actualmente vigente, de conclusão de um mestrado como habilitação para a docência no ensino básico e secundário.” Na área das Ciências Naturais, Matemática e Estatística, 69% dos recém-licenciados estava inscrito num mestrado.

Nos cursos relacionados com Saúde e Protecção Social só 11% dos alunos segue para mestrado.

Neste relatório, a DGEEC também tentou perceber se quem prossegue estudos se mantém na mesma área da licenciatura. A resposta é sim para grande parte dos alunos que vêm da Educação, Engenharia, Indústrias Transformadoras e Construção e Agricultura, Silvicultura e Pescas e Ciências Veterinárias. Por outro lado, metade dos que se licenciam em Tecnologias de Informação e Comunicação optam por outra área.

As diferenças na decisão sobre prosseguimento de estudos em cada área e em instituições de ensino dentro do mesmo subsistema justificam “uma análise qualitativa adicional que ajude a melhor compreender as causas destas variações”, lê-se no documento produzido pela DGEEC. Essa análise poderia contribuir para “aperfeiçoar a articulação entre licenciaturas e mestrados no sistema de ensino superior português”.

Idade é determinante

Além de olhar para o subsistema de ensino, a instituição onde os recém-licenciados concluíram o curso e a área de formação, a DGEEC também cruzou a informação sobre o prosseguimento de estudos de estudantes universitários com o sexo e a idade.

Conclusão: ser homem ou mulher não parece, pelo menos no período em análise, ter tido impacto na decisão sobre continuar a estudar. A taxa de prosseguimento do estudo fixou-se nos 37% para ambos.

Já a “idade do indivíduo quando termina a licenciatura é um factor que está significativamente correlacionado com as taxas de prosseguimento de estudos no ano seguinte”, diz a DGEEC sem apresentar uma possível justificação. Ou seja, quanto mais velho é o recém-licenciado, menor é a probabilidade de continuar para mestrado. Entre os que têm 22 anos ou menos, 48% vai para mestrado. Dos licenciados com 23 ou 24 anos só 34% continua a estudar no ano seguinte. O número vai descendo até que, para quem tem 40 anos ou mais, a taxa de prosseguimento se fica pelos 15%.

Rita Marques Costa - 15 de Setembro de 2019, Público