Falta de professores doutorados, investigação e alunos determinam fecho de escola superior

Agência de Avaliação do Ensino Superior determinou a não acreditação do Instituto Superior de Comunicação Empresarial depois de uma avaliação institucional “gravemente negativa”. Alunos vão poder acabar os cursos nos institutos politécnicos de Lisboa e de Setúbal

Dos 22 professores que estavam a dar aulas no Instituto Superior de Comunicação Empresarial (ISCEM), em Lisboa, apenas seis estavam a tempo integral e destes apenas três eram doutorados. E nenhum tinha o grau de doutor em Marketing, a “área científica em que se situam os quatro ciclos de estudos”. Além disso, nenhum dos docentes “especialistas” apresentava o respetivo título, assumindo essa condição apenas por decisão do conselho técnico-científico da escola, em violação do que determina a lei.

Estes são apenas dois dos aspetos que levaram à decisão de não acreditação do ISCEM por parte da Agência de Avaliação e Acreditação do Ensino Superior (A3ES) e, consequentemente, ao fecho do instituto. A posição da A3ES foi tomada em outubro de 2018, mas o recurso por parte da instituição, seguido de uma providência cautelar, levaram a que só agora o processo de encerramento fosse retomado, explica uma nota do Ministério do Ensino Superior. Em setembro já não abrirá portas.

Os alunos afetados - das duas licenciaturas em funcionamento, três mestrados e dois cursos superiores técnicos, segundo a informação constante no site do ISCEM – poderão concluir os seus cursos noutras instituições de ensino públicas na Área Metropolitana de Lisboa.

O Ministério informa que já foram feitos contactos com os institutos politécnicos de Lisboa e de Setúbal para aferir da sua disponibilidade em integrar estes estudantes, tendo ambos manifestado a sua abertura.

Seguro e Relvas foram professores

O ISCEM funcionava há cerca de 30 anos, mas a “não verificação de alguns dos pressupostos do seu reconhecimento de interesse público bem como uma avaliação institucional gravemente negativa” determinaram a sua não acreditação. E o processo de encerramento compulsivo está agora em "tramitação" na Direção-Geral do Ensino Superior.

Na decisão do conselho de administração da A3Es enumeram-se as falhas que levaram a esta decisão. Por exemplo: “a mesma pessoa acumula funções de representação da entidade instituidora, diretor da escola, presidente do conselho técnico-científico e presidente do conselho pedagógico, ficando comprometida a autonomia científica, pedagógica e cultural do estabelecimento de ensino”.

Além disso, detetou a A3ES, o número de estudantes é “muito reduzido, em particular nos cursos de mestrado”. Também não se encontraram “evidências de uma política de investigação e de prestação de serviços”, nem de medidas de “combate ao abandono e ao insucesso escolar”. O espólio da biblioteca “está desatualizado” e a “rede de internet tem bastantes deficiências”, avaliou-se ainda.

Entre os ex-alunos do ISCEM, o site do instituto destaca o chef José Avillez ou o treinador de futebol Ricardo Sá Pinto. E entre os professores que deram aulas no instituto contam-se o antigo secretário-geral do PS António José Seguro e o ex-ministro do PSD Miguel Relvas.

22.07.2019 Expresso Isabel Leiria