Diretora da Faculdade da Nova defende readaptação do ensino à economia digital, numa localização mais atrativa

Depois da saída da escola de Economia da Universidade Nova de Lisboa (UNL) para Carcavelos, a Faculdade de Direito — e também a de Ciências Médicas — prepara a sua mudança para o concelho de Cascais, num processo que, acredita a diretora, marcará o início de uma nova etapa.

Um espaço construído de raiz à beira mar, mais atrativo para alunos internacionais e não só, com uma infraestrutura tecnológica inexistente nas atuais instalações em Campolide e garantindo uma experiência de ensino mais adequada à economia digital é o que a diretora, Mariana Gouveia, espera garantir com a mudança, dentro de dois anos.

Segundo a universidade, a construção do novo edifício da FD no Campus de Carcavelos, num terreno cedido pela Câmara de Cascais a 200 metros da Faculdade de Economia, deverá estar concluída até ao verão de 2021. O financiamento será feito através de uma campanha de fundraising junto de privados (€1,5 milhões é a meta traçada) a que acrescem €7 milhões que serão garantidos pela Fundação UNL. A venda do terreno na Avenida de Berna onde funciona a Faculdade de Ciências Sociais e Humanas — que se mudará para Campolide, em Lisboa — ajudará à operação.

O presidente do conselho científico (CC) da faculdade, Jorge Bacelar Gouveia, criticou recentemente o projeto numa carta aberta em que pedia que o processo fosse travado. Mas Mariana Gouveia garante que a mudança tem o apoio da “esmagadora maioria dos professores”. No conselho da faculdade, onde estão representantes de professores, alunos e elementos externos, “nenhum disse ser contra”, afirma.

OS DADOS E O DIREITO

A saída da capital, onde está há 22 anos, e o afastamento das outras duas principais escolas de Direito de Lisboa (Clássica e Católica) e também dos grandes escritórios de advogados foi uma das críticas expressas pelo presidente do CC, que fala em “perda de atratividade”. Mas a diretora da faculdade vê na mudança o efeito inverso.

“Ter instalações novas, numa zona que alia qualidade de vida a uma experiência universitária de qualidade é uma mais-valia enorme. No atual edifício não temos uma sala para os alunos nem uma sala de estudos apropriada. Lá podemos ter um edifício aberto, sem muros, com todas as condições tecnológicas. E do ponto de vista da internacionalização é uma vantagem. Quem vem de fora valoriza muito estas condições”, reforça a diretora.

Além disso, acrescenta, a maioria dos estudantes nem sequer é de Lisboa. “Um quarto já vivia na capital, 40% são da Grande Lisboa e os restantes vêm de outras zonas do país.” E os exemplos de grandes escolas que estão fora dos principais centros urbanos repetem-se. “Entre as melhores universidades do mundo são raras as que estão no centro de um grande cidade. Oxford, Cambridge, Yale, Princeton ou Harvard estão fora”, exemplifica.

Quanto ao projeto de ensino, Mariana Gouveia recusa a ideia de que a proximidade com Economia tenha a ver com um enfoque da escola na área do direito dos negócios. O objetivo é garantir que, além das áreas tradicionais do Direito, sejam introduzidas competências que ajudam a preparar os futuros profissionais a resolver os desafios de uma economia digital. Por isso o currículo que entrou em vigor prevê cadeiras de Programação para Juristas e Direito e Tecnologia.

“A mera acumulação do conhecimento deixa de ter valor com a compilação de dados em gigantescas bases de dados e a pesquisa automatizada.” Mas ao mesmo tempo, nunca o Direito foi tão importante, defende, lembrando as polémicas recentes com a recolha de dados pela Cambridge Analytica ou aplicações como a FaceApp. “Imaginar uma economia digital sem regulação — em que todos os nossos dados são detidos por empresas privadas e intermediários substituem prestadores de serviços — é assustador. Conversando com um responsável de uma aceleradora de startups, ele dizia-me: todos os nossos problemas são jurídicos. E é a estes desafios que temos de responder”, acredita. I.L.

EXRESSO 29.07.2019