ACESSO AO ENSINO SUPERIOR 2023  Ensino superior: taxa de abandono quase não baixou depois da pandemia

Um em cada dez estava fora do superior um ano depois de ter entrado. Descida está longe de compensar subida do ano anterior. Desemprego em mínimos históricos.

Os números do abandono do ensino superior continuam a reflectir o crescimento deste indicador registado na pandemia de covid-19. De acordo com a última actualização do portal Infocursos, a percentagem de estudantes que já não se encontravam no sistema de ensino superior um ano depois de se terem inscrito pela primeira vez baixa 0,1 pontos percentuais, o que é insuficiente para compensar o aumento de quase 2 pontos verificado no ano anterior.

Os dados do Infocursos, divulgados esta quinta-feira pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior (MCTES) dizem respeito a 2021/22, um ano lectivo que ainda foi marcado pelos efeitos da pandemia. Se a comparação for feita em relação ao ano lectivo anterior, os indicadores estão bastantes estáveis.

Por exemplo, o número de estudantes de licenciatura que já não se encontrava no sistema de ensino superior um ano após iniciar o curso desceu 0,1 pontos – para 10,7%. Nos mestrados integrados, há uma subida, também ligeira (mais 0,3 pontos percentuais), fixando-se nos 4%.

No entanto, para entender completamente estes dados é preciso recuar um ano. De 2019/20 para 2020/21, o indicador de abandono escolar no ensino superior subiu de forma generalizada. Por exemplo, nas licenciaturas, esse aumento foi de quase 2 pontos percentuais — passou de 9,1% para 10,8%.

Na altura, os responsáveis das instituições de ensino superior relacionaram o crescimento do abandono escolar com as consequências da pandemia de covid-19: o ensino à distância prejudicou a integração dos alunos e nem todos conseguiram lidar com as aulas mediadas pela tecnologia, mas também houve efeitos sociais fruto da perda de rendimentos de muitas famílias. O facto de os indicadores se terem mantido estáveis sugere que esses efeitos ainda perduram no ensino superior.

O abandono continua a ser particularmente elevado nos cursos técnicos superiores profissionais, formações de dois anos que são um exclusivo do ensino politécnico. Quase um quarto (24,7%) dos alunos que se inscreveram em 2021/22 já não se encontravam no sistema de ensino superior um ano depois. Este número aumentou em relação ao ano anterior 0,3 pontos percentuais. Um ano antes, tinha dado um “salto” de 5,7 pontos percentuais.

Desemprego em mínimos

A actualização do Infocursos fica disponível esta quinta-feira. Este portal disponibiliza dados e estatísticas sobre cursos superiores, como os dados do abandono, o número de estudantes estrangeiros em cada curso ou indicadores de desemprego entre os diplomados, “proporcionando mais informação e contribuindo para apoiar os estudantes nas escolhas de curso no ensino superior no momento da sua candidatura”, explica o MCTES na nota de imprensa de divulgação dos resultados.

Os estudantes que concluíram o ensino secundário e realizaram os exames nacionais vão poder candidatar-se a partir da próxima segunda-feira. A 1.ª fase do concurso nacional de acesso ao ensino superior decorre até 7 de Agosto. Os resultados das colocações são conhecidos no dia 27 do mesmo mês.
Ao dispor dos candidatos está um total de 54.311 vagas — um novo máximo histórico — depois de o Governo ter autorizado nas últimas semanas 11 novos cursos a entrarem em funcionamento no próximo ano lectivo. O indicador relativo ao número de diplomados do ensino superior inscritos nos centros de emprego atinge mínimos históricos. Entre aqueles que saíram de uma instituição de ensino superior pública há 3,1% de desempregados, o que significa uma diminuição de 0,9 pontos percentuais face ao ano anterior.

Já no sector privado, a diminuição do desemprego entre os diplomados é ainda maior: são menos 1,1 pontos percentuais, que fixam o indicador em 3,7%. Em ambos os casos, o desemprego apresenta o valor mais baixo dos últimos sete anos — a série temporal que está disponível no portal Infocursos. Esta diminuição está em linha com a evolução do mercado de trabalho a nível nacional. Os dados reportam a 31 de Dezembro de 2022.

Samuel Silva 20 de Julho de 2023, Público