ADSE suporta 21% dos gastos dos privados

Os dados são do INE, mas o Jornal de Negócios admite que o valor possa chegar aos quase 26%. Já o presidente do Hospital da Cruz Vermelha diz que a ADSE "não tem jogo de cintura para negociar".

A decisão de suspender os acordos com a ADSE por parte dos grupos CUF e Luz afecta mais de um 1.2 milhões de beneficiários

Num momento em que vários grupos privados de saúde ameaçam cortar relações com a ADSE, o Negócios publica dados da Conta Satélite da Saúde, do Instituto Nacional de Estatística, que mostram que pelo menos 20,8% dos gastos correntes dos privados são suportados pelo sistema de saúde do Estado. No caso do Hospital da Cruz Vermelha, estes utentes representam já 15% do total da instituição, revelou o presidente em entrevista à SIC Notícias.

Os dados revelados pelo Negócios reportam-se a 2016. Nesse ano, mais de um quarto dos gastos correntes dos hospitais privados foi suportada pelo sistema de saúde público. Mas a fatia pode ser maior. De acordo com o diário, da despesa não devem constar as parceiras público-privadas, casos em que os gastos com beneficiários da ADSE são contabilizados como despesa do Serviço Nacional de Saúde. A ser assim, o peso destes utentes nos gastos correntes sobe para os 25,9%.

Estes dados contrastam ligeiramente com os números partilhados ainda esta segunda-feira pelo presidente Associação Portuguesa de Hospitalização Privada. Óscar Gaspar referia que a ADSE representa “cerca de 18% do total dos hospitais privados”, num universo de 800 mil utentes do sistema da ADSE que são atendidos todos os anos pelos privados.

Os números ajudam a perceber o impacto que os utentes do sistema de saúde do Estado têm nas contas dos hospitais privados — num momento em que os grupos CUF e Luz Saúde manifestaram internamente a intenção de romper com os respetivos acordos com a ADSE a partir de abril.

Em entrevista à SIC Notícias, esta segunda-feira, o presidente do Hospital da Cruz Vermelha revelou que cerca de 15% dos utentes do hospital de Lisboa são beneficiários da ADSE e que a instituição tem interesse em alargar esse universo. Alexandre Abrantes nota “uma certa crispação no diálogo” entre agentes privados e responsáveis públicos, e apela a uma “nova maneira de negociar” os contratos em vigor, “mais fluída”, e que tem faltado nas últimas semanas. Revelou que apesar de ser “um bom negociador” tem tido dificuldades em negociar com a atual equipa da ADSE que “não tem jogo de cintura”.

O responsável do HCV defende a necessidade de os acordos de prestação de serviços entre os privados permitirem que “o prestador, no fim do ano, tire uma pequena margem” de lucro da sua atividade.

Se não tivermos uma pequena margem no final do ano, ao fim de cinco anos fechamos, porque não há sustentabilidade”, diz Alexandre Abrantes.

Nas últimas semanas, mas sobretudo desde que foi noticiada a intenção de dois dos principais grupos privados de saúde — Mello e Luz — cortarem relações comerciais com o Estado, multiplicaram-se as declarações de responsáveis políticos e do setor da Saúde sobre o tema. Depois de o Presidente da República vir apelar ao “bom senso e capacidade de entendimento” entre privados e Estado, o bastonário da Ordem dos Médicos, que receia que esta situação venha a sobrecarregar o Serviço Nacional de Saúde, defendeu essa mesma ideia e sugeriu a intervenção de Marta Temido.

“As partes estão condenadas a entenderem-se” e, nesse sentido, a ministra da Saúde devia “mediar este conflito”, sentando-se à mesa com as duas partes para ajudar a “encontrar uma solução que tenha bom senso“, disse Miguel Guimarães, também na SIC Notícias.

Pedro Raínho - 13/2/2019 Observador