Alunos estrangeiros são já 16% do total

Na Nova School of Business and Economics, 60% dos alunos são internacionais

Número de estudantes que escolhem Portugal para tirar um curso superior mais que duplicou em seis anos

De norte a sul, do interior ao litoral: em praticamente todas as instituições de ensino superior portuguesas existem atualmente alunos estrangeiros a tirar um curso, seja uma parte apenas (um semestre e algumas cadeiras), seja para realizar fazer toda a formação e obter um diploma de licenciatura, mestrado ou doutoramento. O número tem crescido de forma contínua e é o reflexo da aposta das universidades e politécnicos na internacionalização.

No início deste ano, quase 68 mil estudantes vindos de fora tinham aulas numa instituição de ensino superior português. Há seis anos, eram pouco mais de 31 mil, passando de um peso de 9% no total de inscritos para cerca de 16%, segundo os dados mais recentes da Direção-Geral de Estatísticas do Ensino Superior (DGEEC).

Na Nova School of Business and Economics, 60% dos alunos são internacionais

Com a diminuição da população jovem, o contingente de alunos internacionais acaba por representar em várias instituições uma parte relevante da sua comunidade escolar. É o que acontece, por exemplo, nos Politécnicos de Bragança (IPB) e da Guarda, que estão entre os que têm das maiores percentagens de estudantes que escolheram Portugal para tirar um curso.

Elevada qualidade a baixos custos, condições do país e empregabilidade no espaço europeu explicam atratividade

No caso da instituição localizada em Trás-os-Montes e segundo os dados enviados pelo ministério ao Expresso, no início deste ano, um em cada três estudantes (3420 dos quase 10 mil matriculados) eram alunos em “mobilidade internacional de grau” — designação usada pela DGEEC para catalogar os “inscritos que concluíram o ensino secundário num país estrangeiro e que pretendem a obtenção de um diploma numa instituição portuguesa”. No Politécnico da Guarda são quase 20% (661 num total de 3317).

No Politécnico de Bragança — que entre os seus alunos estrangeiros conta sobretudo com jovens provenientes de Paí­ses Africanos de Língua Oficial Portuguesa, mas também cada vez mais do Brasil ou da Tunísia —, a procura por novos públicos que contrariassem a perda de população local começou no início da década passada e os resultados estão à vista. Os últimos Censos mostram que, na faixa etária dos 15 aos 24 anos e que inclui quem frequenta o ensino superior, poucos concelhos do Norte aumentaram a sua população e um deles foi Bragança, lembrou o presidente do IPB numa entrevista recente ao Expresso. E se a grande maioria acaba por regressar ao país de origem, cerca de 5% dos diplomados ficam na região, sublinha ainda Orlando Rodrigues: “É, mesmo assim, um número de alunos significativo que alimenta o mercado local de emprego. Se mais emprego fosse criado, mais ficariam.” Licenciaturas e mestrados nas áreas das Engenharias e Informática​ são os cursos mais procurados por quem vem de fora para fazer a sua formação.

Mas a mobilidade de estudantes integra ainda quem vem apenas tirar algumas cadeiras. A DGEEC chama-lhe “mobilidade internacional de crédito” — “inscritos por um determinado período, tendo como finalidade a obtenção de créditos académicos posteriormente reconhecidos pela instituição estrangeira de origem a que pertencem” — e são sobretudo jovens que vêm ao abrigo de programas como o Erasmus.

Brasil lidera a lista de proveniências. Seguem-se os PALOP, países europeus, mas também mais longínquos, como China, Irão e Equador

Na Universidade Nova de Lisboa (UNL) — cuja Faculdade de Economia foi pioneira neste percurso, começando a dar aulas em inglês em 1995 —, um quinto dos seus alunos são internacionais, inscritos sobretudo em mestrados e doutoramentos. “Neste momento, a Nova School of Business and Economics já superou a Faculdade de Ciências Sociais e Humanas em número de estudantes, muito graças à enorme procura por parte de alunos em mobilidade. Mas é preciso notar que o facto de receber mais estudantes de fora é também acompanhada por um aumento de inscritos nacionais”, frisa o vice-reitor da UNL, João Amaro de Matos.

Recordando o caminho feito pelas instituições portuguesas, o responsável lembra que, se há 20 anos a internacionalização do ensino superior se resumia praticamente aos alunos de Erasmus, a projeção de várias escolas de topo através dos rankings e outras redes levou a que cada vez mais jovens passassem a vir para Portugal tirar um curso inteiro. E hoje, estão claramente em maioria (ver números).

“A qualidade do ensino superior, com um custo mais baixo em Portugal do que acontece em escolas de idêntico nível no Reino Unido, França ou Espanha, e as condições de segurança e clima associados ao país” ajudam a explicar o sucesso, diz Amaro de Matos, apontando ainda outro fator: a empregabilidade que muitas escolas superiores têm no mercado europeu. “As universidades portuguesas são vistas como perfeitamente integradas no espaço europeu. No caso da Nova, em particular, são muitas as empresas europeias que vêm recrutar os nossos alunos. E isto é um fator muito importante para quem vem de fora.”

Entre as nacionalidades estrangeiras mais representadas, as estatísticas da DGEEC mostram que a brasileira é, de longe, a mais presente, com perto de 19 mil inscritos. Seguem-se os Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa, França, Espanha, Itália e Alemanha como as proveniências mais comuns. Mas as origens são as mais diversas, com destaque para países como a China, o Equador ou o Irão, com centenas de alunos a estudar no ensino superior português.

Isabel Leiria Expresso